sábado, 31 de outubro de 2009

O Corredor Amador - III

Problemas delicados durante a corrida, nosso tema de hoje.

Apesar dos comerciais de TV e revistas mostrarem de forma idílica as corridas, com bosques, ruas vazias, estradas perfeitas, nós sabemos que em nossa vida real as coisas não são bem assim. Sempre temos alguns problemas em nossos percursos. Tanto podem ser dos locais, quanto das companhias e o pior deles, conosco mesmo.

Comecemos pelas quedas. Existem 2 tipos de corredores. Os que já caíram e os que vão cair. Eu mesmo já tropecei e caí 2 vezes. Os machucados maiores estão no orgulho e na vergonha. Por correr de manhã bem cedo, poucos devem ter visto meus tombos. Palmas das mãos e joelhos ralados são os resultados mais leves, podendo acabar em contusões mais sérias, inclusive nas faces. Mas a vergonha é tremenda e, dessa, ninguém escapa ileso. O melhor jeito é levantar, sacudir a poeira e continuar a correr, como se nada tivesse acontecido. E não vá achando que com você não acontece, pois a força da gravidade e a lei de Murphy são mais fortes do que nós.

Outro problema grave, e do qual ninguém comenta, é o desconforto gástrico. Sem ser politicamente correto, chamemos de dor de barriga. Quem já não passou um aperto destes num treino ou prova de rua? É muito, mas muito, desagradável. Não pelo fato em si, que é fácil de resolver, mas por 2 motivos. O principal é o local para se livrar deste desconforto. Depois de resolvido este dilema, fica a sensação do tempo de corrida perdido. Devemos contabilizar, ou não, o tempo parado ao final? Em provas considero os 2 tempos, com e sem “pit stop”. Em treinos, considero o tempo sem paradas. Afinal, quem corre na rua sempre para o cronometro nas travessias de ruas mais demoradas, correto?

Quanto ao primeiro ponto, o local, voltemos agora a nossa atenção. No início de uma prova de rua ainda é fácil, pois tem vários banheiros químicos, apesar do ambiente nada agradável dos mesmos. Creio que é melhor ilustrar com o que me ocorreu na Meia Maratona de Buenos Aires deste ano. Quem passou por este sufoco vai contar alguma estória parecida com a minha. Para quem não passou esta situação, ainda, vale como referencia para o futuro.

Após a largada, com mais ou menos 2 km percorridos, senti uma pontada na região abdominal e, de pronto, reconheci-a. A principio esperava que fossem gases. Um parêntesis, sobre gases trataremos depois. Passado mais 1 km, não eram gases. Começou o conhecido, e nunca desejado, arrepio. A situação foi ficando mais grave a cada km percorrido. Olhava os vários parques que cruzávamos durante a prova e, em vez de curtir a paisagem, ficava imaginando se poderia me esconder atrás de algum arbusto e livrar-me daquele incomodo. Meu lado racional tentava convencer meu lado físico a continuar a corrida e, depois de concluir os 21 km, seria recompensado. No 9 km a chuva apertou e, também, minha barriga. E já não havia nenhum parque por perto, pois estava passando por cima de um viaduto e chegando num pedágio. No 10,5 km, ao lado do pedágio, tinha um posto de gasolina. Minha concentração não estava mais na prova, na chuva, no ritmo, enfim, em mais nada além de minha dor de barriga. Num último lapso racional, quis acreditar que seria possível continuar a correr, porém vi um corredor sair do banheiro e voltar à prova. Era a visão do paraíso na terra. Acelerei, mas em direção aos banheiros. O dos homens estava cheio, o que me deixava mais calmo por não ser o único corredor com problemas, mas o desespero apertou. Não dava tempo de esperar. Apelei para o banheiros das mulheres, que por sorte minha, e delas, estava vazio. Parada de 5’30”. Retorno feliz, aliviado e mais concentrado ao percurso. Nem a chuva e o frio por mais 2 km me desestimularam. Cheguei feliz e realizado aos 21K.

Já que estamos falando em processo fisiológicos durante uma corrida, tratemos de mais 2 pontos. Nariz escorrendo e gases.

No começo eu procurava não assoar o nariz durante a corrida, mas estava ficando difícil respirar. Acho desagradável fechar com o dedo uma narina e expelir pela outra um jato de sujeira nasal. Hoje procuro faze-lo em lugares que não tenha muita gente olhando e próximo a áreas gramadas ou com árvores. Durante as provas, não tem jeito, seguro o máximo possível, vou para um dos lados da via e vejo se não vem ninguém atrás ou ao meu lado. Já vi corredores discutindo por causa disso. O da frente solta o jato e o de atrás sofre com o fato. Em algum lugar li a respeito disto e dizia que, o nariz escorrer durante exercícios, estava associado ao sistema nervoso automático.

Com os gases é semelhante. Algumas matérias sobre o assunto já foram publicadas nas revistas especializadas de corridas, mas tratam o tema com muito “tato”. Na verdade o assunto é muito “leve”. Deixe sair. Não segure. Não vai te fazer bem. Mas, pelo menos, tenha respeito pelos outros. Faça-o de maneira discreta, de preferencia a uma distancia salutar de outras pessoas ou corredores. Ligue o “turbo”, mas com moderação. Uma das explicações mais comuns para este fato é que durante os exercícios, o sangue do aparelho digestivo vai para as pernas e assim há menos sangue disponível para a digestão.

Não esqueci de mencionar o “xixi”, só deixei para o final, pois esse problema para os homens é muito fácil de resolver. Qualquer lugar é possível usar para o alívio. Lógico que a boa educação deve prevalecer, sempre. Para as mulheres a situação é parecida com a dor de barriga, pois vão ter que achar um lugar mais “discreto”.

Agora é só sair por aí, correndo livre, leve e solto. Mas esteja preparado para os problemas…..

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